Uma conversa prevista pra durar 40 minutos, durou pouco mais de três horas. Conversei hoje com dois membros do coletivo de fotógrafos Kamerades.
Há pelo menos seis anos eles dedicam seu tempo em coberturas pelos bálcãs. Marko Risović e Nemanja Pančić fazem parte da primeira geração de crianças iugoslavas que não viveram na época do Marechal Josip Broz Tito, líder do país por mais de 30 anos, morto em 1980.
Marko e Nemanja comentaram sobre a primeira coisa que aparece em suas memórias quando eles lembram do antigo país, que se desintegrou ao longo das décadas de 90 e 2000:
“Quando eu estava no primário, éramos obrigados a andar com um lenço no pescoço. Era o grande evento na Iugoslávia. Mesmo o Tito tendo morrido há sete ou oito anos, ainda tínhamos esses e eventos. Tínhamos uma imagem dele em cima do quadro. Nesse dia andávamos com esse uniforme. Cantávamos e tudo mais. Olhando meu álbum é possível ver que algo deu errado naquele dia, em 1987 ou 1988. Eu estou com o lenço pendurado e segurando-o com a mão. Eu não sabia fazer o laço. Tirando isso, não tenho muitas memórias do país como Iugoslávia. Não sinto que pertenço a alguma nação. Meus documentos dizem que sou sérvio. Mas sinto-me um cidadão do mundo. Muito por conta da origem da minha família. Eles vêm da Eslovênia, Bósnia, eu nasci na Sérvia”, disse Marko.
Nemanja, assim como o amigo, também tem em seu arquivo uma memória ligada ao Marechal:
“Lembro-me que eu ficava triste por ter nascido após a morte do Tito. Ele morreu em maio de 1980, eu nasci em setembro de 1980. Minha vida era mais fácil. Não era estressante. Depois a guerra começou e mudou tudo. Lembro das reportagens na TV. É isso. Posso considerar que sinto uma nostalgia da antiga Iugoslávia. De uma forma romântica. Algo assim”, contou.
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