A Otan foi criada em 1949 para “conter o expansionismo soviético, proibir o renascimento do militarismo nacionalista na Europa através de uma forte presença norte-americana no continente e incentivar a integração política europeia”[1]. Após o fim da União Soviética (URSS), em 1991, as estratégias da Otan foram alteradas. Bill Clinton afirmou na década de 1990 que a “questão não era se a aliança seria expandida, mas quando e como seria expandida”. Seu vice-presidente, Al Gore, chegou a afirmar que “a segurança dos Estados que se encontram entre a Europa Ocidental e a Rússia afeta a segurança da América”. Ou seja, a ideia da Otan de conter a URSS foi reformulada e a organização é usada a partir de então como uma ferramenta política para expandir as fronteiras do mundo ocidental, o que pressiona as fronteiras da Rússia (Brzezinski, 1995). Ela se transformou em uma aliança militar voltada para promover a democracia política e a economia de mercado entre os países ex-comunistas e assim inicia seu processo de expansão para o leste da Europa.

Após a Reunião de Roma, em 1991, foram definidas quatro dimensões novas no que diz respeito aos objetivos: prover bases necessárias para um ambiente de segurança e estabilidade na Europa, prover um foro de debate transatlântico sobre questões de segurança, manutenção do papel de defesa contra qualquer ameaça estrangeira a algum membro da organização e, além disso, a manutenção de um equilíbrio estratégico na Europa. A Otan passaria então a ter os olhos voltados para toda Europa, já que passaria também a “promover a estabilidade na Europa não-Otan”. (França, 2004)
Ela tem “invadido” um espaço que causa desconforto à Rússia, seja por meio de “intervenções humanitárias”, como no caso da Guerra do Kosovo, seja pela incorporação à aliança de países que antes tinham mais influência russa, como era o caso da Polônia, Hungria, República Tcheca, Albânia (Hoje todas essas nações, que antes faziam parte do Pacto de Varsóvia, extinto em 1991 e que representava uma reposta da URSS à criação da Otan, fazem parte da Aliança do Atlântico Norte).

Sendo assim, da mesma forma que a Otan se firma como uma potente aliança regional, fatos como os citados acima e outros como o reconhecimento de Kosovo como nação pela maioria dos membros da Aliança em 2008, por exemplo, são causas para este desagravo. A Rússia passou então a desconfiar que a organização, na realidade, buscava um enfraquecimento do país em uma região na qual havia desempenhado um papel de protagonismo e liderança. (Dannreuter, 1999, Kubicek, 1999, Kassianova, 2002, e Smith, 2002 apud Mielniczuk, 2013)
[1] http://www.nato.int/history/nato-history.html
Brzezinski, Zbigniew. A Plan for Europe: How to Expand NATO. Foreign Affairs, 2015. Disponível em https://www.foreignaffairs.com/articles/poland/1995-01-01/plan-europe-how-expand-nato
Mielniczuk, Fabiano. O Conflito entre Rússia e Geórgia: uma revisão histórica. 2013. Disponível em: file:///Users/raphaellima/Downloads/6311-24071-1-SM%20(1).pdf