Skopje, a cidade inventada

A rodoviária de Pristina (capital do Kosovo), aos domingos, é praticamente abandonada. Comprei o tíquete para Skopje no único guichê aberto. Ônibus lotado. Por cinco minutos teria de esperar mais duas horas para viajar. A viagem correu bem até a fronteira. Até ficarmos uma hora na fila. Ao chegar nossa vez, um policial entrou no veículo pegando passaporte por passaporte. Cerca de 10 minutos depois outro entrou e chamou todos os albaneses.

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Os cerca de 15, mais ou menos um terço dos passageiros, precisaram descer e formaram uma fila lá fora. Eles iam voltando aos poucos, mas quatro deles foram impedidos de seguir viagem. Não soube o motivo, mas há alguns anos Macedônia e Albânia estão com as relações diplomáticas abaladas. Por conta do projeto da Grande Albânia, o país vizinho tem, basicamente, tomado algumas regiões da Macedônia. Eles são maioria, conseguem eleger seus candidatos e têm pedido autonomia. O problema piorou pouco mais de uma semana após minha passagem pela cidade quando um grupo nacionalista invadiu o parlamento macedônio e espancou deputados de origem albanesa no dia que um deles foi eleito presidente da Câmara. Em 2001, uma guerra civil quase foi pra frente na Macedônia por conta de uma minoria albanesa, que insurgiu contra o governo.

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Estátua de ”Alexandre”, na praça (Raphael Lima)

Andando por Skopje, o que se vê é uma cidade completamente modificada. Na década de 60, após um terremoto que destruiu mais de 80% dos prédios, a capital da então república iugoslava cresceu nos moldes da arquitetura comunista. Mas de menos de uma década pra cá, o que se vê é um governo nacionalista tentando criar uma Macedônia que não existiu. Por conta de uma obsessão com Alexandre, o Grande, o país tem tentado vincular sua história ao antigo imperador da Macedônia – mesmo ele tendo nascido no território que pertence hoje à Macedônia, nome de uma das regiões da Grécia. A capital Skopje tem então diversas construções com estilo antigo, mas que na verdade têm pouco mais de cinco, 10 anos. Após a separação da Iugoslávia, essa modernização aumentou. Hoje, Skopje é uma espécie de Las Vegas da Europa. Uma mistura de história e cafonice. Uma estátua gigantesca, que seria do antigo rei da Macedônia, foi colocada na principal praça da cidade em 2012. Mas ela não pode ser chamada de Alexandre, o Grande, algo que seria rechaçado pela Grécia que, inclusive, não reconhece o nome do país como República da Macedônia, mas como FYROM: Antiga República Iugoslava da Macedônia, em inglês: Former Yugoslavian Republic Of Macedonia. Essa foi a condição para o país vizinho aceitá-la na Organização das Nações Unidas*.

* Só em 2018, quase 30 anos após a independência da Macedônia e seis meses após a publicação do livro, os dois países entraram em um consenso e a FYROM passou a se chamar República da Macedônia do Norte.

 

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